quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O encontro perfeito


Tu verás que os males que devoram os homens são o fruto de sua escolha;
E que essas infelicidades procuram longe deles os bens de que eles trazem.


A transfiguração do amor no casamento perfeito, que é a penetração de duas almas, no próprio centro da vida e da verdade. O homem e sua força não é o representante do princípio e do espírito criador? A mulher em todo o seu poder não personifica a natureza, em sua força plástica, em suas realizações maravilhosas, terrestres e Divinas? Pois bem, que esses dois seres consigam se penetrar completamente, corpo, alma, espírito, formarão, os dois, um resumo do Universo. Mas para acreditar em Deus, a mulher precisa vê-lo viver no homem; e para isso é preciso que o homem seja iniciado. Apenas ele é capaz, por sua inteligência profunda da vida, com sua vontade criadora, de fecundar a alma feminina, transformá-la para o ideal Divino. E a mulher amada reenvia esse ideal multiplicado em seus pensamentos vibrantes, em suas sensações sutis, em suas adivinhações profundas. Ela lhe reenvia sua imagem transfigurada pelo entusiasmo, ela se torna seu ideal. Pois ela o realiza com o poder do amor em sua própria alma. Por ela, ele se torna vivo e visível, ele se faz carne e sua própria alma. Pois se o homem cria pelo desejo e pela vontade, a mulher, física e espiritualmente, gera pelo amor.
Em seu papel de amante, esposa, mãe ou inspirada, ela não é menor, sendo ainda mais Divina que o homem. Pois amar é se esquecer. A mulher que se esquece e que se afunda em seu amor é sempre sublime. Ela encontra nessa anulação seu renascimento celeste, sua coroa de luz e a irradiação imortal de seu ser.
O amor reina na literatura moderna há dois séculos. Não é o amor puramente sensual, que se acende ante a beleza do corpo, como nos poetas antigos; também não é o culto insípido a um ideal abstrato e convencional como na Idade Média; é o amor ao mesmo tempo sensual e psíquico que, solto em toda liberdade e em plena fantasia individual, se deu inteira liberdade. Freqüentemente os dois sexos fazem a guerra no próprio amor. Revoltas da mulher contra o egoísmo e a brutalidade do homem; desprezo do homem pela vaidade e falsidade da mulher; gritos da carne, cóleras impotentes das vítimas da volúpia, dos escravos da libertinagem. No meio disso, paixões profundas, atrações terríveis e tanto mais poderosas quanto são entravadas pelas convenções mundanas e instituições sociais. Daí esses amores cheios de tempestades, de desmoronamentos morais, de catástrofes trágicas sobre as quais se desenrolam quase sempre o romance e o drama modernos. Dir-se-ia que o homem fatigado, não encontrando Deus nem na ciência nem na religião, o procura desesperadamente na mulher. E ele faz bem; mas não é senão através da iniciação às grandes verdades que Ele o encontrará n’Ela e Ela n’Ele. Entre essas almas que se ignoram reciprocamente e que ignoram a si próprias, que às vezes se deixam maldizendo-se, há como uma sede imensa de se penetrar e de encontrar nessa fusão a felicidade impossível. Apesar das aberrações e exageros que disso resultam, essa busca desesperada é necessária; ela sai de um Divino inconsciente. Ela será um ponto vital para a reedificação do futuro. Pois quando o homem e a mulher encontrarem a si mesmo e um ao outro através do amor profundo e da iniciação, sua fusão será a força radiante e criadora por excelência.
Do livro: Os grandes iniciados.

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